fiogf49gjkf0d fiogf49gjkf0d É extremamente difícil saber onde termina a Dacal-cantora e começa a Andréia Dacal-pessoa. Circulando por um meio – o do rap, do ragga, do dub jamaicano – que cada vez mais se divide entre artistas "conscientes" e artistas sem consciência nenhuma, esta fluminense de 29 anos (dos quais,quase 15 dedicados também à música) ousa segurar a flâmula do pensamento responsável, da militância ideológica e até politicamente correto, levando para a sua música uma cascuda visão de mundo.
Crescida sobre o skate, esporte pelo qual batalhou a ponto de intervir na política niteroiense, Dacal é cria do underground e vem riscando no mapa brasileiro (além de tudo é intima da Geografia, tendo formação pela Federal Fluminense) uma trilha peregrina sempre à margem, inculcando aqui e ali e sorvendo aqui e ali idéias e pensamentos de pessoas aparentemente isoladas, mas conectadas pela grande arena de ativismo que se tornou a Internet. Com um mouse na mão, um Mic na outra e muita inspiração no pulmão, a cantora e instrumentista encheu sua música com valores que vão da busca ao cerne espiritual humano até a contestação das "estruturas cristalizadas" da sociedade brasileira como quer o sociologuês.
Sua trajetória teve uma trégua por volta de 2005 e 2006, quando se dedicou a encapsular toda esta visão no primeiro disco, Caos, Roots, Controle, que saiu em março de 2007 pelo não menos alternativo Tomba Records, produzido pelo proprietário do selo, produtor, DJ, guitarrista e amigo Bruno Marcus (cujo currículo conta com generosas contribuições ao rap alternativo brasileiro, como no trabalho com o coletivo Quinto Andar). Caos, Roots, Controle não tocou na MTV nem nas rádios comprometidas com o próprio rabo (que está preso), mas figurou na maioria dos tocadores de MP3 e no dial das rádios dedicadas exclusivamente à música de inspiração jamaicana, marginalizadas por natureza.
Com sua mistura de ragga, rap, dub, samba e MPB, manipulada com excelência científica e misturadas com o poder de síntese de alguém que pisa tanto em favelas quanto em salões de forró , terreiros de samba, shows de reggae e festas rap, Caos, Roots, Controle apresentou Dacal a uma enorme variedade de DJs, músicos e admiradores de seu som, mas nem de longe prenunciava o que estava por vir, como sua participação posterior no disco de estréia do excelente trio italiano Dubzoic e as pontas acendidas no projeto lusitano Bandulu Dub, sem falar em sua emblemática participação nas mixtape Istambul Riddim (brasileira) e Dub and Blaze (italiana).
Com a pena mais afiada do que nunca e a performance a ponto de erupção, Dacal vem, isolada e intensamente, preparando material para uma nova fornada de músicas. Suas conquistas certamente são honrosas, mas ela tem consciência (se tem!) de que o caminho é árduo. Como ela mesma canta, cheia de uma convicção que beira o ascetismo, "todo dia disciplina, aprendiz". Dacal, sua música e sua personalidade, seu ótimo alcance vocal e seus pensamentos engatilhados, está sempre pronta para a batalha. |