::.Rastafarianismo
Desde o final do século 19, como meio de sobrevivência, os negros se
organizavam em grandes grupos, feito tribos ou nações independentes e uma
delas, uma nação de "maroons", surgiu um líder, Marcus Moziah
Garvey, um pregador evangélico que, depois de começar a misturar política e
orgulho racial em seus sermões, por volta de 1927, criou o movimento
religioso Rastafari.
Baseado no Velho Testamento, o Rastafarianismo pregava o repatriamento para
a África, a Etiópia como a terra prometida e Haile Selassie, coroado como
rei em 1928 e proclamado Imperador da Etiópia em 1930, a encarnação de Deus
na terra. Selassie, batizado cristão copta como Ras Tafari Makonnem,
descendente da linhagem nobre salomônica, originada do rei Salomão e da
rainha Makeda de Saba e de Menelik , o 1º imperador etíope, cerca de 1000
anos a.C.
Por trás da pregação religiosa de Garvey, estava o sentimento nativista,
a organização política e o desejo de proclamar a independência, conseguida
através de um plebiscito em 1062, depois de lutas entre partidos que
fomentavam o radicalismo racial, a guerra entre classes sociais, etnias e
dissidências religiosas extremistas.
A cultura jamaicana foi feita por um povo oprimido, com notável vocação
para o improviso e a sobrevivência em situaçõe extremas. É natural que amúsica
produzida na ilha reflita seu engajamento religioso e o fervor libertário
contra séculos de pobreza e opressão. A música da Jamaica é também a
mistura de extremos convivendo juntos, uma sociedade baseada economicamente na
agricultura com a presença sufocante da industrialização, uma organização
social primitiva, tribal e miserável em contato com a sofisticada rica e
civilizada Inglaterra. Como colônia inglesa, os músicos jamaicanos
promoveram um intenso intercâmbio entre a Jamaica e a Inglaterra, levando e
trazendo influências.
A partir dos anos 50, a grande colônia estabelecida em Londres criou condições
para que a música da Jamaica fosse ouvida e absorvida pelos ingleses. Em
Trench Town e Shanty Town, os bairro favelados de Kingston, capital da
Jamaica, o sotaque jamaicano e seu idioma musical ficaram tão comuns como em
Brixton, bairro londrino onde os imigrantes jamaicanos foram confinados.
Uma versão soft para o Rastafarianismo
O povo prometidoUma interpretação muito particular da Bíblia marca o
reggae O rastafarismo, uma - digamos assim - filosofia, é a própria encarnação
da anarquia. Sem organização, hierarquia ou fé no poder, os rastas
combinaram crenças africanas muito antigas com o cristianismo fundamentalista
dos Estados Unidos, em particular a Igreja Batista. Tudo começou com um
ex-escravo afro-americano chamado George Liele, que fundou a Igreja Batista na
Jamaica do século 17. Nascia aí o rastafarismo, com vários pontos em comum
com o judaísmo.
Assim como os israelenses, os jamaicanos sofriam com a discriminação racial
e com a impossibilidade de retorno à pátria, o que fez surgir na ilha vários
líderes políticos. Um deles, o sindicalista jamaicano Marcos Mosiah Garvey -
o mais destacado -, perambulou pelos EUA pregando que Deus era negro. Garvey
acreditava que os negros deveriam voltar para a África, de onde tinham sido
arrancados para trabalhar como escravos. É dessa época a profecia atribuída
a Garvey<, que dizia: ``Quando um rei negro for coroado na África, é
sinal que a redenção está próxima.´´ Em 1930, a Etiópia coroou o
primeiro imperador negro da África. Ras Tafari Makonnen adotou o nome de Hailé
Selassié e o título de ``Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão
Conquistador da Tribo de Judá.´´ Selassié afirmava ser de uma linhagem
sagrada: descendia do casamento do rei judeu Salomão com a Rainha de Sabá. A
família de Davi, pai de Salomão, gerou nada menos que Jesus Cristo.
Os rastas vêem Selassié como o novo Messias. A redenção não veio, Selassié
não conduziu o povo à terra prometida (África), mas os rastas se
proliferaram pela Jamaica. Eles se baseiam numa livre interpretação da Bíblia
para justificar o uso da ganja (leia-se maconha). ``Ele se elevou da fumaça
de suas narinas´´, prega o Salmo 18:9. Os rastas não cortam o cabelo - daí
os dreadlocks - e não fazem a barba. Carne de porco, álcool e tabacos são
terminantemente proibidos. A alimentação consiste na I-Tal Food, comidinha
feita a base de ervas, raízes e vegetais. Os rastas jamaicanos tiveram sua própria
civilização, chamada Sociedade Para A Salvação Da Etiópia. Em 1941, a
festa acabou: policiais invadiram a sede da sociedade na colina Pinnacle, em
Kingston, destruindo uma senhora plantação de maconha. Os líderes foram
presos. Mas os rastas não se deram por vencidos e reconstruíram Pinnacle
dois anos depois. A polícia também mostrou sua persistência - o local foi
definitivamente demolido em 1954.
A Jamaica se transformou então numa segunda Babilônia, considerada pelos
rastas a personificação do mal. Em 1966, Hailé Selassié, em visita à
Jamaica, pregou que a imigração para a terra prometida não deveria ocorrer
antes da própria ilha fosse libertada. O rastafarismo ganhou um perfil político,
com a participação - fracassada - do Black Man´s Party nas eleições no
ano seguinte. Mas a tentativa não foi em vão: nasceu daí a Rastafarian
Moviment Organization, que compilou grupos ligados ao culto e montou o jornal
mensal Rasta Voice.
Só que nenhum veículo de informação se deu melhor do que as pregações
musicais de Bob Marley e cia. Nos anos 70. Hoje os rastas não têm a mesma
popularidade entre os jamaicanos. Mas eles ainda são a marca registrada da
ilha, com seus cânticos e os inconfundíveis dreadlocks.
|