Especial Etiópia: História, geografia, cultura e sociedade


A Etiópia, ou Ethiopia, a Abissínia da Antigüidade, é um país do norte-oriental da África. O nome do país vem do nome do soberano Etiópis, cujo reinado data de 1856 a.C. (IRIE, 2001 - p 21). As origens de sua unificação como Império, podem ser encontradas mais tarde, cerca 900 anos antes de Cristo, quando teve início a dinastia do trono etíope, com o Rei Menelik I que, segundo a "lenda" histórica, seria filho do Rei Salomão, o Rei Hebreu da Bíblia judaico-cristã, com a Rainha Sheba, ou Rainha de Sabá, governante de Shoa, terras abissínias. Menelik I foi o fundador e primeiro rei do Império de Askum, semente da Etiópia atual. 

Os primeiros habitantes do território etíope pertenciam a variadas etnias entre as quais predominavam os semitas árabes. A herança de Salomão, que a História comprova por meio de numeroso documentos, (como escrituras sagradas judaico-cristãs, apócrifas e canônicas) evidencia-se na forte presença de elementos da cultura judaica que a Bíblia Africana, o Kebra Negast (Glória dos Reis) explica como resultado de uma viagem empreendida por Menelik I à Israel, justamente para conhecer seu pai, Salomão, e ele com aprender a Ciência Política e os princípios da sabedoria e da religião. 

Quando o jovem Menelik foi a Jerusalém pela primeira vez, para conhecer seu pai, o Rei Salomão, voltou para a Etiópia com 12 mil israelitas, filhos de nobres e de pastores. Levou consigo a Arca da Aliança que ficou guardada em Askum. (NAPHTALI, Comentários - p 99).


Mausoléu de Menelik II (1844-1913) - Adis Abeba

GEOGRAFIA

DADOS RESUMIDOS  1994

 Estatuto: República
 Área: 905.450 km²
 População: 47.921.000 habitantes
 Crescimento Demográfico anual: 2,9%
 Capital: Adis Abeba
 Línguas Predominantes: amárico, inglês e árabe
 Religiões: Cristianismo Ortodoxo Etíope, Islamismo, Crenças Tradicionais

 RELEVO: O Território Etíope possui uma vasta rede hidrográfica que inclui parte do Rio Nilo, (Nilo Azul), o Rio Sobat e o Lago Tana. No relevo predominam planaltos elevados e profundas gargantas cortadas pelos cursos d'água. No centro-norte, localiza-se o vale de Rift, região dos Lagos Rodolfo, Estefânia, Chamo, Abaya, Awasa, Shala, Langano e Ziwai. A Noroeste ficam as terras mais altas e o ponto culminante, o Ras Dashan (Montanha Dashan), com 4.620 m. 

 CLIMA E VEGETAÇÃO: Apesar de localizada em zona tropical, a Etiópia possui um clima entre o ameno e o frio. A temperatura média é de 13ºC em todo território. Na capital, Adis Abeba, em maio, o mês mais quente do ano, a média é de 17ºC. Nas regiões baixas e áridas são registrados até 30 C. As chuvas abundantes, que ultrapassam 1200 mm anuais acima dos 2000 m, concentram-se entre os meses de junho e outubro. A vegetação se constitui em bosques, matas, florestas tropicais, florestas-galeria e savanas. Entretanto 56,4% das terras abriga campinas e pastagens.

 ECONOMIA: A base da economia Etíope é a agropecuária. São produzidos: café ( 50% das exportações), frutas, algodão e sementes oleaginosas. A pecuária é desenvolvida em todo país, que possui rebanhos de bovinos, caprinos e eqüinos. A Etiópia ainda se destaca na produção de insensos, peles e couros para exportação. As indústrias mais importantes são as de tecidos (de algodão), cimento, alimentos enlatados, material de construção e artigos de couro. Ouro e sal são extraídos em pequena escala.

 CRISTIANISMO ORTODOXO: Nos anos 300 d.C., o Império de Askum-Etiópia se converteu ao Cristianismo Ortodoxo da Igreja Copta de Alexandria - Egito, quando Atanásio, o Patriarca consagrou Frumento como o primeiro bispo do país que, por sua vez, converteu o Rei Ezana (IRIE, 2001 - p 21). Até então, não havia uma religião oficial no país, fragmentado que era política e culturalmente, abrigando várias etnias que sincretizavam suas crenças tribais com as tradições judaicas. Posteriormente, com o advento e expansão do Islamismo, muitos etíopes tornaram-se muçulmanos, fato que atiçou rivalidades entre os cristãos e os discípulos de Maomé. 

 UNIFICAÇÃO: Durante milênios, a Etiópia, embora fosse um território mais ou menos definido, não era um Estado unificado, sofrendo grandes conflitos internos além de freqüentes incursões hostis de outros povos, como árabes muçulmanos, já mencionados, sudaneses, somalis e, a partir da Idade Moderna, europeus colonizadores, especialmente italianos. Somente no século XIX uma unificação política começou a se delinear. O responsável pelo processo de constituição de um Estado Etíope Moderno foi o Negus (Rei) Teodoro II (1855-1868), líder do povo Kassa, pai de Menelik II, seu sucessor e cujo nome remetia à dinastia etíope de origem salomônica. Menelik II transferiu a capital, de Askum para Adis Abeba, em 1887 (GEOGRAFIA ILUSTRADA, p 1606).

 CONFLITO COM ERITRÉIA: Entre os conflitos regionais seculares, nos quais, hoje, guerrilhas são freqüentes, destaca-se a questão da Eritréia. A Eritréia é uma pequena faixa de terras litorâneas no nordeste da Etiópia, às margens do Mar Vermelho. Em diferentes períodos históricos foi anexada e desmembrada por sucessivos movimentos políticos. Em 1960, o imperador etíope Haile Selassie, sucessor de Menelik II, conseguiu reintegrá-la ao território temporariamente. 

O domínio caiu mas foi recuperado pelo governo militar que substituiu Selassie e converteu o país em Estado Socialista. A importância da Eritréia reside no fato daquela área ser a única "porta para o mar" possível para a Etiópia. Atualmente, o problema continua. O governo etíope foi contestado ativamente pela Frente Popular Marxista de Libertação da Eritréia, organização nacionalista, militar e política. A Eritréia tornou-se um país independente da Etiópia em 1993. Entretanto, na região de Ogaden, somalis ainda reivindicam autonomia. 

 POVOS: Dezenas de povos diferentes tornaram a Etiópia conhecida como "Museu de Povos". Os abissínios, chamados "Amhara", são uma mistura de árabes, negros, hamitas e judeus. Há várias outras etnias como Habashats (gente de rosto queimado), Gallas (pele acobreada), Somalis e Bantos, em um universo que reúne mais de 70 grupos raciais falando cerca de 100 línguas. Todos estes povos têm sua origem histórica situada na Antigüidade, em terras do Oriente e Oriente Médio, incluindo Egito, parte da Fenícia (atual Israel), Palestina, Irã (antiga Pérsia) além de vastas regiões na Ásia e na África.



Os hamitas, inicialmente estabelecidos no Egito, eram semitas-negróides. Semitas são aquela família da raça humana que os antropólogos identificam como pessoas morenas, em vários tons de pele, com olhos e cabelos pretos ou castanhos. Negróide é a denominação genérica para a diversidade de tipos humanos que coexistem na África. Os negróides do norte-oriental do continente, onde se localizam países como Etiópia e Marrocos, são negros esguios, não raro altos, morenos caracteristicamente escuros em graus que vão do negro intenso ao cobre-dourado.

ÁRABES E JUDEUS: O MITO DAS DOZE TRIBOS

Os árabes têm sua origem registrada no Gênesis, da Bíblia judaico-cristã. Eles seriam descendentes de Abraão, fundador da civilização hebréia, pela linha de Ismael, fruto da união do patriarca com a escrava egípcia Agar. Esta união foi uma idéia de Sara, mulher de Abrãao, que era estéril. Entretanto, ao ver a escrava grávida, Sara teve ciúme e passou a tratar a serva com hostilidade. Temerosa pelo futuro do filho, Agar fugiu para o deserto onde teve a visão de um anjo que lhe disse: 

"Volta para junto de tua senhora e humilha-te sob tua mão. (...) Eis que concebeste e terás um filho e o chamarás Ismael (= Deus ouve) porque o Senhor deu ouvidos à tua aflição. Ele será um homem feroz (...) ele levantará suas tendas diante das de seus irmãos." (BIBLIA SAGRADA, p 38).

Ismael cresceu no deserto de Faran, tornou-se um hábil arqueiro e casou-se com uma egípcia. Teve doze filhos: 1.Nebarot, 2.Cedar, 3.Adbeel, 4.Mabsam, 5.Masma. 6.Duma, 7.Massa, 8.Hadad, 9.Tema, 10.Jetur, 11.Nefis e 12.Cedma. Estes teriam sido os fundadores das 12 tribos e aldeias dos primeiros árabes, os guerreiros nômades do deserto. Os árabes se espalharam por todo o Oriente Médio e regiões do norte da África como Sudão e Marrocos, além da Etiópia. 

Quanto aos judeus, ainda segundo a Bíblia, é um povo-irmão dos árabes, não obstante a longa e triste guerra entre ambas as nações, em território palestino, manchete nos jornais desde a formação do Estado de Israel, depois da Segunda Guerra Mundial. Voltando à história passada, os judeus são os descendentes de Jacó, filho de Isaac, filho de Abrãao com Sara, que finalmente engravidou, em idade avançada, "pela graça do Senhor".

Em determinado ponto de sua trajetória de lutas e liderança de sua tribo, Jacó teve o seu nome trocado. No relato bíblico, conta-se que depois de passar uma noite inteira lutando com um Anjo de Deus, a fim de obter uma benção, Jacó foi rebatizado pelo próprio Anjo que, tocado pela persistência do homem, chamou-o Israel (Aquele que luta com Deus ou Aquele que desafia Deus). Semelhante à história do árabe Ismael, Jacó-Israel também teve doze filhos: 1.Rubem, 2.Simeão, 3.Levi, 4.Judá, 5.Isaacar, 6.Zabilon, 7.José, 8.Benjamim, 9.Dan, 10.Neftali, 11.Gad e 12.Aser. Naturalmente, estes foram os fundadores das Doze Tribos de Israel.

Os livros de história datam o primeiro registro sobre um patriarca semita chamado Abrãao em 1.800 anos antes de Cristo. Os hebreus habitaram inicialmente o deserto da Arábia porém Abrãao vivia na Mesopotâmia (atual Iraque) quando recebeu o "chamado de Deus". Ali eram chamados de khabiru ou habiru, significando estrangeiro ou nômade, origem da denominação "hebreu" (McNALL BURNS). Em sua evolução política, as "doze tribos de Israel" jamais se mantiveram perfeitamente unidas porém impunham-se como nação ante povos vizinhos. 

Foram governados, primeiro por Juizes; depois, pelos Reis Saul, Davi e Salomão. Com a morte de Salomão, o reino sofreu uma primeira desintegração. Dez tribos, que ocupavam o norte do território, recusaram Roboão, filho de Salomão como novo líder. Estas dez tribos que separaram tornaram-se o Reino de Israel enquanto as duas tribos do sul constituíram o Reino de Judá. Em 722 a.C. Israel foi invadido pelos Assírios e seus habitantes foram dispersados. Desde então, este povo desterrado foi chamado de "As Dez Tribos Perdidas de Israel". 

Judá resistiu; manteve-se por mais cem anos mas em 586 a.C., foi destruído pelos Caldeus, liderados por Nabucodonossor. A história antiga de Israel foi encerrada definitivamente em 70 d.C., quando os romanos destruíram o que restava de uma unidade política. O Estado israelita somente renasceu na segunda metade do século XX.

ETIÓPIA HOJE

Atualmente, a Etiópia é o país mais populoso do nordeste africano. Cerca de 90% dos habitantes vivem nas zonas rurais. Os 10% restantes ocupam grandes cidades, como Adis Abeba e Asmara, além dos centros comerciais, Dire Dawa, Dese, Harer e Gonder. Em termos de religião, o país se divide entre cristãos ortodoxos (fortemente influenciados pelo judaísmo) e muçulmanos. 

A instabilidade que sempre foi o maior inimigo da nação tem provocado um enorme atraso econônomico e conseqüente baixo índice de desenvolvimento humano. A agricultura de subsistência prevalece e há carência de investimentos na modernização da infre-estrutura, ou seja, faltam vias de transporte, comunicações, silos e indústrias de beneficiamento. As taxas de desemprego e analfabetismo são altas; fome e miséria em geral castigam os herdeiros da Abssínia.

Depois de milênios de miscigenação, a sociedade etíope, hoje, apresenta um quadro de usos e costumes que abriga tradições arábes e judias, um paradoxo curioso porque reúne, no cotidiano, valores de identidade que se chocam violentamente no âmbito da política nacional e internacional. 

No dia-a-dia do povo etíope não existe conflito na mistura entre o tribalismo negro, muçulmano, cristão e judeu, que aparecem harmonizados nas especialidades culinárias, no vestuário, na linguagem popular, nas artes e até mesmo na religião. Observando esta harmonia cultural no meio do povo, conclui-se, enfim, que as guerras e as guerrilhas são uma terrível insensatez, estratégia infeliz para a imposição dos interesses unilaterais e anti-humanidade de elites governantes que em nada refletem a tendência natural de coexistência pacífica dos governados, na Etiópia e no resto do planeta. 

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BIBLIOGRAFIA


 ATLAS GEOGRÁFICO MUNDIAL. São Paulo: Folha da Manhã, 1994.
 BÍBLIA SAGRADA, v I. [Versão em italiano; Monsenhor Carlo Marcora]. Trad. Jacob Penteado. São Paulo: Edigraf, 1961.
 GEOGRAFIA ILUSTRADA enciclopédia. África, v 5 - p 1601. São Paulo: Victor Civita, 1971.
 GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES. ÁFRICA - v II, p 176. Madrid: Del Prado, 1997.
 IMSSEMBLY for rastafari iniversal education. Chiacago: 2001 [sem ref. de autor].
<imsembly_for_rastafari_iniversal_education@hotmail.com>
 McNALL BURNS, Edward. História da civilização ocidental, p 111. [Trad. Lourival Gomes Machado e Lourdes Santos Machado]. Porto Alegre: Globo, 1975.
 MOREIRA, Igor. O espaço geográfico: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1999.
 NAPHTALI, Karl Phillpotts. Testemunho de sua majestade imperial Haile Selassie, o defensor da fé - Comentários. (Sem ref. de data, tradutor e ano de publicação) 


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