02/08/2010 Confira a entrevista com a banda Semente da Paz, uma das principais da nova geração do reggae baiano!
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A banda Semente da Paz atualmente é considerada uma das grandes forças da nova geração do Reggae baiano e nacional. Tal destaque vem rendendo bons comentários da mídia e do público e participações nos grandes eventos com outras atrações nacionais e internacionais na capital baiana. Nesta entrevista, um papo descontraído com Daniel Pontual, um dos líderes e vocalistas do grupo.
A ENTREVISTA
João Carlos – Saudações Daniel, antes de tudo, gostaria de parabenizá-los pelo ótimo trabalho que a banda tem feito, e dizer que é uma satisfação poder entrevistá-lo. Inicialmente gostaria que você apresentasse cada um dos integrantes da banda Semente da Paz e suas funções no grupo. Daniel Pontual: Eu, na voz e guitarra, Mário Marauak também voz e guitarra, Paulo Semente no baixo, Jardel Cruz na percussão, Vicente de Jesus na bateria, Milan Gordilho, guitarra solo e Gel Fyah - piano.
João Carlos – Qual a proposta do grupo? Daniel Pontual: Levar ao público através da música reggae a palavra de Jah Rastafari. Somos uma pequena porção de sementes espalhadas pelo mundo capazes de gerar frutos em condições perfeitas para criar raiz e viver dando continuidade e a essência natural da vida, tocar e tocar-lhe.
João Carlos – Qual a relação de vocês com a cultura rastafari? Daniel Pontual: Sim, somos rastas. O groundation (enraizado) com a cultura ortodoxa primitiva cristã etíope, o nyabinghi a célula mãe, a serviço de vossa majestade imperial Haile Selassie I Jah Rastafari I.
João Carlos – Como você definiria a banda? Como vocês definem o tipo de reggae que fazem? Daniel Pontual: Somos uma banda de reggae, conectados historicamente no estilo, tocando desde o Ska dos anos 60 ao New Roots dos dias atuais. Portanto nos inspiramos em toda a evolução do ritmo, com muitas vertentes dentro de uma única cultura, navegamos pelo roots, rockers, rocksteady, raggamuffin, dancehall com a intenção de estar sempre recriando. Na batida do coração o nyabinghi pulsa vida.
João Carlos – Fale-nos sobre a evolução que você vê na banda Semente da Paz nos seus primeiros dias em comparação ao trabalho de vocês hoje. Daniel Pontual: Como uma muda de planta verde que a cada dia cresce um pouco. Nossos passos na música reggae tem se transformado ao longo do tempo. Por termos começado a tocar ainda jovens (aos 18 anos em 2001), tínhamos nossas limitações, a energia era sempre pulsante com vibrações positivas e o discurso comprometido com a palavra de Deus, mas ainda limitado devido ao fato de ser apenas o inicio. Pesquisando e estudando, tanto a música como os períodos históricos da sociedade, rompemos nossas limitações e começamos a recriar e ir mais alem, quando enfim descobrimos novas limitações. Na verdade a Semente da Paz começou tocando o reggae roots, por ser a única e toda a informação que tínhamos. Através da internet, ocorreu o acesso a diversas fontes, propiciando-nos a oportunidade de conhecer toda a história do ritmo, foi quando abrimos o ouvido para novas batidas e tocamos a harmonia em um novo ritmo como o ragga, o rockers, e o new roots, no qual estamos trabalhando atualmente, mas ainda e sempre ligado ao roots. Hoje vejo a semente é como uma árvore pronta para dar seus frutos, pode ser 30, 60 ou até 100.
João Carlos – Quem compõe as letras e músicas da banda? Daniel Pontual: Musicas originais e autorais recriadas pela Semente da Paz. As composições são escritas por mim e Mário Marauak, onde cada compositor interpreta sua própria canção.
João Carlos – De onde vem a inspiração para as músicas? Daniel Pontual: Acreditamos por vivenciarmos a manifestação de Jah em nossas vidas, dia a dia, nossa inspiração vem do íntimo de nossos corações. Somos estudantes do evangelho de cristo, as letras retratam sobre os problemas sociais, políticos e religiosos em nossa sociedade, tanto no passado como nos dias de hoje, levando ao povo a palavra de conforto e esperança de uma vida justa.
João Carlos – Você acha que o público tem compreensão de quem é Jah e o que ele representa? Daniel Pontual: Sim, o público e qualquer pessoa pode confessar e reconhecer a existência superior, mas nem todos estão conscientes de sua essência. Porém, sua representatividade de um pai justo e misericordioso prevalece.
João Carlos – Vocês têm um disco já lançado. Como é que você avalia esse trabalho? Daniel Pontual: “Fogo Fogo”, produzido na WR Estúdios por Marcelo Oliveira, nossa parceria, nos traz boas expectativas no cenário musical profissional. Estamos confiantes nesse trabalho, acreditando na evolução da música reggae e em suas grandes produções, com a presença de artistas internacionais. Com músicas dançantes e letras marcantes em suas palavras populares, esperamos atingir o povo em massa.
João Carlos – O CD “Fogo Fogo” parece ter sido uma grande realização, o que mais vem por aí em termos de projetos futuros? Já existe algo planejado? Daniel Pontual: Vamos dar inicio um novo projeto para um cenário que esta começando e crescendo muito aqui em salvador. Esse novo disco será um formato que trabalharemos nas noites da cidade, conhecido como Sound System, onde as batidas instrumentais são acompanhadas de uma levada improvisada dos cantores e MCs. Nesse disco cantaremos novas letras em músicas do circuito, chamado Riddim.
João Carlos – O que acha sobre o movimento reggae na Bahia? Daniel Pontual: Já teve seus altos e baixos, acredito estarmos vivenciando um momento de crescimento. Estamos tendo uma boa oportunidade de ver que esse é o estilo que mais traz artistas internacionais ao estado.
João Carlos – O que você tem a dizer sobre o projeto de unificação do movimento alternativo que acontece em Salvador? Daniel Pontual: Realmente a idéia é que funcionaria como uma cooperativa, onde os associados estariam edificando um circuito profissional alternativo. Como pequenos eventos nos rendem o investimento de um único trabalho, convidamos e somos, pelas bandas do movimento que unem-se nesse projeto, como convidados especiais, assim estamos sempre presentes nos eventos.
João Carlos – O que falta para vocês atingirem o sucesso a nível nacional? Daniel Pontual: Tempo, é tudo uma questão de tempo. Conscientes de que o merecimento está acima de qualquer desejo esperamos pacientes, Selah.
João Carlos – A internet vem se tornando uma forte arma de divulgação de pequenas bandas. Como as mesmas crescem desproporcionalmente, esquecem de fundamentos básicos como uma boa gravação, ensaios, etc. O que vocês acham disso? Daniel Pontual: Como uma seleção natural na vida selvagem, serão devorados os que não estiverem aptos a sobreviver nesse mar de possibilidades. Todos agora têm a oportunidade, porem como irás chamar a atenção deles? Vivemos um momento de transição, a derrota das gravadoras e liberdade dos artistas, o fim da ditadura de propaganda e início de uma nova era de divulgação. Todos podem ser vistos, todos podem te ver, nos sites, enfim. A evolução da comunicação nos possibilita uma ação jamais vivida. Enquanto ainda estamos nos adaptando, “eles espremem a laranja até o caroço, e fritam o porco com a própria banha”, vocabulário usado pelos empresários (risos).
João Carlos – Ultimamente têm surgido grandes colaborações dos artistas e produtores de reggae. Vocês pensam em gravar com outros nomes do Brasil ou internacional? Daniel Pontual: Em verdade vos digo que quero “tirar o nosso próprio som” em nosso estúdio, ainda não pensamos em gravar com artistas internacionais, mas estamos sempre gravando com os artistas locais, como, Ministério Público Sistema de Som, Ras Ital, Ras Diego, Moa anbesa, Nova Aliança, Red Meditation e outras, mas ainda estamos em laboratório preparando uma fórmula nova. Aguardem!
João Carlos – Você acha que existem estímulos para a ascensão de um músico independente no Brasil? Daniel Pontual: Como seu concorrente irá financiar seus negócios? Ao mínimo irás te enfraquecer e lhe oferecer sociedade.
João Carlos – Qual a sua opinião sobre a ocorrência do discurso de teor mais religioso, social e político de alguns grupos de reggae e por outro lado o das bandas que falam apenas de surf, praia e histórias de amor? Daniel Pontual: Uma isca, uma grande isca. Quem ouvir a palavra na casa de Davi, não voltará para babilônia. Que eles tragam cada vez mais surfistas e românticos, por que também somos, para que eles ouçam a canção da corte do rei Davi, Selah.
João Carlos – O que você acha da pirataria? Crime ou mais uma "maneira versátil" de divulgação? Daniel Pontual: Uma pena que esses trabalhadores humildes e honestos, dignos de seu suor, estejam levando menos pão para dentro de casa. A tecnologia avança devorando tudo! Se vira meu povo, do seu jeito, sobreviva, Selah.
João Carlos – O que você acredita que pode ser feito para que o reggae atinja mais pessoas? Apesar de ser popular no mundo inteiro o ritmo ainda é muito discriminado. Daniel Pontual: Legalize a marijuana, é o futuro como Marley disse, “rasta é o futuro”, em breve, muito em breve, as autoridades aprovarão a legalização, mas como a repressão ao porte ainda é ativa na sociedade, somos intimidados e discriminados. Enquanto não legalizar, não seremos aceitos.
João Carlos – Foi um prazer trocar essa idéia com você. Obrigado pela entrevista, e realmente desejamos muita sorte e sucesso, esperamos ver vocês se apresentando para grandes públicos. O espaço é todo de seu para deixar uma mensagem. Daniel Pontual: Gostaria de parabenizar ao Rafael Costa e todos vocês que fazem o Surforeggae, excelente trabalho de comunicação e informação direta ao público do reggae. Essa iniciativa de arquivar e documentar o movimento brasileiro e internacional nos deixará um legado histórico. Acredito que ainda vamos colher o efeito desse trabalho, que já nos traz frutos. Informação e cultura ao povo. A mensagem que deixo a todos é, por favor, não se esqueçam: a cura é o amor.