29/08/2009
Surforeggae entrevista Alexandre, vocalista do Natiruts, sobre a polêmica do VMB 2009! Confira!
 
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Com uma idéia clara e bem formada sobre o cenário do reggae nacional atual, Alexandre Carlo (vocalista do Natiruts) fala sobre o desligamento da banda do prêmio VMB 2009, da emissora MTV. Agradecemos à toda produção pela atenção com nossa equipe e principalmente ao Alexandre pelas respostas simples e objetivas que podem acrescentar e muito na enfim valorização do estilo no país.

A ENTREVISTA


Rangel: Olá Alexandre. Primeiramente parabéns por toda a participação do Natiruts na ploriferação do ritmo reggae pelo Brasil e pelo mundo, e por levar de forma positiva o nome do país ao exterior. Essa polêmica do VMB 2009 vem dando o que falar no Twitter, e percebemos que a real intenção de vocês com a desindicação foi mal interpretada. Afinal, o Natiruts não concorda com o que? Com o VMB em si ou somente com a categoria Reggae da premiação, e por que?
Alexandre: A gente já sabia que iriam interpretar de várias formas nosso comunicado. Na verdade esse primeiro comunicado foi direcionado ao público da MTV. Procuramos ser suaves porque a gente também não quer passar uma impressão de revolta, porque não é isso. O que podemos dizer é que o povo é ingênuo. Então não iriam entender e nem somos nós que vamos explicar. Pouca gente viu o filme Cidadão Kane. Eu vi. E vi outros muito mais reais também dos quais participei. Como agora eu estou falando para um meio de comunicação que fez parte da construção da carreira da banda poderei ser mais direto.

É muito importante para nós deixarmos bem claro que não queremos reivindicar, reclamar, criticar ou outra coisa parecida, o prêmio da MTV. Simplesmente a gente não quer deixar que seja formada uma opinião dentro da cabeça das pessoas que fazem e acompanham a banda, de que um premio criado por um canal que quase nunca divulga nosso trabalho,(o Coca-Cola Zero com o funk foi um pedido da própria Coca-Cola), seja considerado padrão de qualidade da nossa carreira. Porque aí você vira refém. Todo ano você faz a maior correria, grava CDs, DVDs, ensaia shows, turnês, a MTV não se interessa em cobrir nenhum e aí no fim do ano aparece como grande referência e incentivadora do reggae nacional criando uma categoria no VMB. Ohhhhh !!!! Regueiros agora sim vocês são importantes. Ohhhh !!!
E a gente está longe de precisar disso.



Rangel: É inegável a importância da MTV Brasil para o cenário musical desde o seu nascimento no começo da década de 90. Até estilos infelizmente "marginalizados" pela sociedade como o rap, tinham espaço na emissora num programa exclusivo, o "Yo!". Você acha que se a MTV desse um pouco mais de importância ao ritmo jamaicano, alguns preconceitos cairíam por terra?
Alexandre: Amigos, vejam bem, esqueçam essa necessidade de que alguém ou alguma coisa que não te deu importância espontâneamente até agora, um dia poderá vir a ser a responsável pelo seu crescimento. Unam-se e dêem valor, credibilidade, bons comentários nos bares, nas ruas, nas esquinas, a quem já está aí. Isso é o mais importante de tudo. O padrão de qualidade do que a gente faz, tem que ser dado por quem está conosco. Quem quiser chegar agora ou depois será bem recebido mas estará somente se unindo a um processo que já existe e que já tem as suas referências. Quem deve decidir os melhores do reggae, são as pessoas que vivem o reggae. Senão rola aquele papo do refém.



Rangel: Por pouquíssimas vezes a MTV apoiou o reggae, pelo menos a MTV Brasil. Vocês também sentem a falta deste apoio, ou para o Natiruts a cena é auto-sustentável?
Alexandre: A coisa mais importante do ser humano é a auto-confiança, a auto-estima. Eu não posso sentir falta de alguma coisa que tem todas as ferramentas para contribuir e também receber uma contribuição mas não o faz por opção. Como eu disse é uma opção temos apenas que respeitar e criar as nossas próprias formas também.



Rangel: Você acha que a cena Reggae Nacional peca às vezes pela desagregação? Sente que há algum tipo de competição entre as vertentes?
Alexandre: Sim. Mas essa competição na maioria das vezes é puro fruto da ingenuidade. Às vezes tem muito profeta para pouca profecia. Às vezes tem muita raiz para pouco caule. Mas isso é a minoria. As vertentes são diversas e interessantes. Tem os moderninhos que viajam para Londres e só ouvem DUB. Tem os desencanados que só querem fumar um e fazer luau na praia. Tem os adeptos à religião rastafari. Tem os que só conhecem os hits das rádios. Isso é normal e sempre vai existir em qualquer cultura. O que não é normal é até hoje não existir uma mentalidade de que tudo faz parte de uma mesma origem e que todos unidos poderemos ser mais.

Mas como meu avô dizia falar é fácil quero ver dar uma sugestão, eu tenho uma. Um encontro sobre cultura reggae, dentro de um festival. Tem que ser em sampa por causa da facilidade de estrutura. No Rototom (Festival na Itália) é assim. De tarde tem oficina de percussão, aula de yoga, exposição de arte, artesanato, um palco alternativo rolando alguma banda nova. No fim da tarde rola o palco principal e vai até uma hora, depois vem a tenda dancehall com as Sound Systems. Nós, todos do reggae, temos a música, a vontade, e o principal, o apoio maciço do povo. É uma sugestão, pode ser viável ou não mas se for estamos dentro desde já.



Rangel: Você acha que o reggae precisa invadir a grande mídia, ou o "trilho" do ritmo é paralelo ao mainstream?
Alexandre: Esse papo da grande mídia é contraditório dentro do próprio reggae. Ao mesmo tempo que reclamam que não tem espaço, reclamam quando alguém aparece. Tem é que se decidir. A gente, desde o começo, nunca teve esse problema. Sempre vamos aonde somos respeitados.



Rangel: Temos dois exemplos claros de que a mídia de grande porte geralmente se refere ao reggae de forma desrespeitosa. Em 2006, a MTV fez uma entrevista com a mãe de Bob Marley, Cedella Booker, e na matéria chamou-a de "MãeConheira", fora outras "tiradinhas" infelizes que geraram uma revolta por parte dos amantes do reggae no Brasil. O outro fato envolve a revista VEJA, que quando citava o álbum "Welcome to Jamrock" de Damian Marley, finalizou dizendo que a crença de milhares e milhares de pessoas pela cultura Rastafari, era uma "baboseira Pseudo-religiosa". Enfim, O que você acha destas citações?
Alexandre: Geralmente se refere de forma desrespeitosa eu não acho . Pelo contrário. Mas esses exemplos simplesmente não formam minha opinião. Existe muita prepotência em certos setores da sociedade. Para mim e para milhares e milhares de pessoas brancas, pretas, azuis e amarelas a Cedella é uma vencedora, o Welcome é uma obra de arte e o show do Radiohead é sensacional. E isso é o que importa e não vai mudar porque o fulano da revista ultra mega falou.

Tem coisas na vida que são muito sutis. Os caras se colocam como "os formadores da verdadeira opinião" porque tem grana, tem uma vaga de repórter, de jornalista. Aí amanhã ele escreve uma matéria de rodapé dizendo que "até gosta" de Natiruts aí eu fico todo feliz. Tipo "nossa agora consegui, eu venci". A gente tem que aprender a valorizar as opiniões de quem está com a gente. E quando for se expressar não perder a educação, a elegância, porque o Brasil é isso. Porque é isso que a gente acha e pronto.



Rangel: Elcio Coronato, repórter do "Notícias MTV", postou em seu Twitter um comentário sobre a desindicação do Natiruts, onde cita que a carta enviada para a MTV foi escrita sob influência de um "cachimbinho da paz". O Twitter oficial do VMB encaminhou o post, e todos os seus seguidores tiveram acesso a mais este comentário "fora de hora". O Natiruts esperava tal resposta vinda (ou apoiada) pelo VMB após o desligamento da premiação?
Alexandre: Pois é, e eu nem fumo mais. É que o cara vê você de dread, cantando sobre a paz e o amor e tal aí ele pensa "esse aí é humildezinho, que toca o reguinho e depois fuma o baseadinho, e vai pro seu barraquinho" aí manda uma dessa. Falta elegância. Aquela parte bonita da cultura européia. Eu acho que a gente se preocupa demais com certos comentários que não valem a pena. Às vezes é até mais por falta de auto-estima do que "luta pela igualdade" como se diz por aí. É igual a história do macaco. Recentemente rolou uma dessas no twitter de alguém. Aí bombou. É incrível como dão notoriedade para certo tipo de assunto. Se eu fosse branco toda vez que eu fosse lançar disco eu ia chamar alguém de macaco. Esse papo do macaco me inspirou. Meu selo novo vai se chamar Space Monkey.



Rangel: Alexandre, obrigado pelas respostas e pela banda estar sempre na ativa pelo fortalecimento do reggae no Brasil. Deixe um recado para os visitantes do portal que tanto admiram seu trabalho.
Alexandre: Quando o assunto for reggae acreditem nos que trabalham, divulgam, e se interessam sobre o reggae. E nunca percam o respeito pelos outros, nem a elegância. Porque quem indica é o povo e não cinco ou seis que não estão nem aí para vocês.


Fonte: Rangel Surforeggae





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