08/09/2020
Rastafari: um guia que nos ensina a viver!
 
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Existem sempre muitas perguntas, através das perguntas nos movimentamos e evoluímos. Não existem respostas definitivas, nunca paramos no objetivo, tudo está sempre em eterno movimento, como se diz: “aproveite o destino, porque ele é a viagem”. A real missão é reconhecer os processos e compreender a militância secular.

A “Sabedoria do Rei Salomão” é a mística do Rasta, que não é uma mera aquisição de informações e conhecimentos, mas algo unido e praticado com a ação, entrega e devoção para purificar, libertar e transmutar o ser, literalmente transformando pedra em ouro. Assim abordamos essa alquimia, nossa meta é a redenção, elevar nosso espírito de luz em vida.

SOMOS TODOS SERES DIVINOS


A mística se refere essencialmente ao domínio dos “mistérios” da comunicação com JAH, a intimidade com o JAH, com a chave do agradecimento. Nesse interesse primordial do homem com seu “verdadeiro eu”, com sua essência espiritual e material. Em um mundo de complicação e dominação, no qual o homem ou a mulher podem facilmente se confundir com seus desejos, com suas manifestações, sua mundanidade, esquecendo completamente do que é feito, que é algo sagrado, que é um ser divino.

Então, toda essa cultura é uma guia para nos limpar da vaidade desse mundo, limpar o homem ou a mulher do seu envoltório secundário em que está, e para que volte a brilhar a luz da gratidão em seu ser, a força vital, o amor pela existência e o amor por si próprio.

O REINO DAS CRIANÇAS


Assim como para os primeiros cristãos, o reino de JAH foi feito para suas crianças. Não crianças no sentido de imaturidade, mas no modo como Cristo ensinou: "aquele que não se tornar como uma criança não vai entrar no Reino de meu Pai", ou seja, a pessoa que não se despir da arrogância, da prepotência, da megalomania, do desejo de ser poderoso, da intenção de pisar nos outros, aquele que não desistir disso, não vai conseguir ser feliz, ser são e ter paz na vida.

Quando a pessoa fala que vai te provar, vai te mostrar algo, principalmente por uma vingança pessoal, fazendo coisas que não fazia ao seu lado, coisas que criticava ao seu lado, só pra mostrar que também é capaz, sabemos que essa pessoa está em uma competição com ela mesma, lutando com seu ego e querendo provar algo para si.

E tudo aquilo que é baseado no ego gera sofrimento, uma jornada de sofrimento, uma jornada sem honra, uma jornada desonrada, desleal.

Por isso muitas pessoas estão em sofrimento, porque querem as coisas passando por cima dos outros, caluniando, mentindo, traindo, roubando, e quando chega onde queria, a única coisa que pode encontrar é um vazio muito grande ao lado de pessoas falsas e vazias como ela mesma. O Rastaman anda pelos caminhos da verdade, da lealdade e da vida.

O QUE É O RASTAFARI?


Só de ouvir a palavra Rasta ou Rastafari, ou cultura Rastafari, uma série de preconceitos vem à cabeça das pessoas, no mínimo controvertidas e geralmente negativas. Pensam que somos intolerantes, machistas, fanáticos, vagabundos ou que criamos uma cultura para só fumar maconha.

Outros acreditam que seja somente o nome de um penteado. Sem dúvidas, esses são temas muito mal compreendidos e poucos discutidos.

Rastafari não é religião, mas uma forma de vida baseada em princípios milenares e naturalistas, fundamentado sempre na preservação de todas as naturezas, uma cultura universalista e inclusiva. Poucos espaços temos para compartilhar os ensinamentos que zelamos, somos como água pura em uma terra seca, escassa e árida. As bases desse sistema “capetalista” em que vivemos nos ensina a competir, defender e depender.

Rastafari é o sal da terra! Rastafari traz a visão de que “cultura” é um movimento familiar, comunitário, tribal, baseado na cooperação, caridade e independência. Esse é o estilo de vida Rasta. Essa Bio-Inteligência poderia ser empregada nas escolas como ciências fundamentais, nos meios comuns de subsistência da espécie, na agricultura familiar, na preservação ambiental, preservação corporal, mental e espiritual.

Governamentalmente, então, o Rasta questiona muito esses dois setores sociais perpetuados pelo sistema (Babilônia), como a educação e saúde. O que é necessário realmente aprender? Como devemos nos alimentar? Por que aprendemos somente as histórias falsas dos colonizadores nas escolas? Porque eles envenenam tanto os alimentos para nos venderem remédios?

Professamos como os antigos judeus uma cosmovisão monoteísta, muitas vezes rigorosa, simples, alta e profunda. Nunca como um monopólio, como uma dominação, com parcialidade, mas como uma totalidade, com a lei de causa e efeito, com a paz do entendimento que somos um só povo, um só coração, um só amor, uma só humanidade em diversidade.

A HUMILDADE É A CHAVE DA NOBREZA


Nossa pedra fundamental é o Respeito. Rastafari é uma guia que ensina a viver, familiarmente e socialmente. Sem amor não existe respeito, algo que engloba toda conexão da humanidade porque é o princípio que cria meios, presente no fundamento de tudo, do espírito até a matéria, da floresta até a cidade, do começo até o momento presente e além, dando um significado místico a todos os nossos atos, com uma forma simples de viver. A “humildade é a chave da nobreza”.

Rastafari não se obriga, nem obriga ninguém a incorporar qualquer lei unicamente mundana ou humana. Rastafari segue exoterizando, legalizando, legitimando, atualizando, ativando e contemplando. Tanto em direção, como em devoção, como em conhecimento, Rastafari é vivo e funcional, não é dogmático e nem doutrinário.

O movimento Rastafari se estende para um pequeno número de pessoas, mas incorpora seus princípios nas mais diversas raças e espiritualidades. Isso porque os Rastas fundamentam a congregação e se incluem entre outros grupos religiosos: judaicos, essênios, indianos, espíritas, mulçumanos, cristãos e pós-cristãos, indígenas, oasqueiros, mas, principalmente, ou centralmente, dentro dos movimentos africanos e pan-africanos de libertação, repatriação, reparação e igualdade.

Rastafari segue espiritualizando e vivificando todas as áreas, nesse resgate de ancestralidades, em todos os setores profissionais. Despertando a humanidade para nossas raízes, nossa gênese humana em África, acreditamos que tudo que acontece no mundo global hoje se dá porque espiritualmente não estamos cuidando das nossas raízes, das nossas origens.

BACK TO AFRIKA!


Qualquer planta sem raiz morre, e o Rastafari resgata essa ancestralidade africana, essa pulsação essencial, o nyahbinghi ativa e cura essa conexão essencial com a terra, com o espírito e com esse sentimento de pertencimento, de maternidade proporcionado por nossa mãe terra, temos que nos voltar para África.

Se não bastasse toda essa visão panorâmica, abordamos também as muitas divisões entre os seguimentos, entre as mansões, mas principalmente porque existem pessoas “mais ortodoxas” que deslegitimam tudo que não for a sua visão dogmática, e as “menos ortodoxas” que dizem que todos somos Rastas, que para ser Rasta é necessário principalmente o Amor.

Eu acredito que no fundo todos são Rastas, mas deve existir um equilíbrio sempre positivo. Rastafari é vida, em vários níveis, permeando diversas realidades, mentalidades para sustentar e manter sua fé na QHS Majestade Imperial Haile Selassie I e na Imperatriz Menen, nos seus trabalhos pacificadores e ancestrais por todo o mundo.

O REI DOS REIS






Haile Selassie com certeza é o ponto comum e central da fé Rastafari. Em suma, nosso movimento começa em 1930 em sua coroação Alpha e Ômega, revelando o “Novo Nome”: Rastafari I!

Sua Majestade Imperial foi um místico, no sentido pleno. Um líder de muitos encontros diplomáticos, construiu pontes com o mundo, unindo nações e crenças, homem de retiros espirituais, de preces contínuas, reconhecido como Ras na sua juventude e Rei dos Reis (Negusa Nagast) na sua fase adulta, visionário, o libertador da nossa era, homem de tremenda presença espiritual, cortejado por Reis e Rainhas pelos seus conselhos sábios.

Segundo o pequeno livro de orientações dos Elders (anciões), chamado “Código de Conduta Rastafari”:

Os Rastafaris devem se focar nas coisas em comum [...] pondo de lado as diferenças por objetivos do coletivo.”.

Ou ainda:

Os Rastafaris devem ter em conta que são os atuais zeladores das antigas culturas indígenas e ancestrais, os protetores de toda a fé humana, como foi afirmado pelos Anciões; Patriarcas e Matriarcas.”.

Jah Abençoe a todos!

SOBRE O AUTOR






RasKadhu é chairman da R.U.F Brasil (Rastafari United Front) e visitou nos últimos vinte anos ao redor do planeta Terra algumas das principais comunidades e mansões da Universalidade Rastafari em Shashamane (Ethiopia), Marcus Garvey Camp (África do Sul), Templo del Sur (Chile) e Sede RUF (Brasil), conhecendo e convivendo com alguns dos principais organizadores Elders e Mamas de nossa cultura, continuando seu trabalho pioneiro de aproximação e decodificação da cultura Rastafari para a língua portuguesa.


Fonte: Ras Kadhu

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